As máquinas, a tecnologia e a convivência com os humanos
Estamos a viver numa época onde a inovação é constante. Do ponto de vista tecnológico, aguardam-se evoluções com grande impacto no modo de vida a que os humanos estão habituados. Quando se fala de tecnologia, da evolução das tecnologias de informação, da capacidade das máquinas comunicarem entre si para auxiliar em determinadas tarefas, além do fascínio científico, há quem pondere nas questões morais. Algo a que as máquinas são agnósticas mas que, para os humanos, que vivem em sociedade, sempre foram muito relevantes e marcam mesmo a discussão quando a espécie é comparada com outras.
Desde os tempos da industrialização que a "ascensão das máquinas" é vista com desconfiança por aqueles que receiam pelos seus empregos, o ganha pão. Mas, tal como se tem visto até agora, quando as tecnologias são bem aplicadas, os benefícios acabam, quase sempre, por ser maiores do que os prejuízos. A mão de obra tem de se especializar, o tipo de tarefas e funções vão mudando, abrindo espaço para novas profissões, novas formas de curar e prevenir doenças. Mas, nem tudo são benefícios. E é aqui que entra a outra vertente. Tal como ficou claro durante a Web Summit, "o que vamos fazer quando milhões de pessoas ficarem sem emprego?"
E este dilema está mais perto do que possa pensar.
Mais do que o receio de perder o emprego, existem questões morais que são colocadas em causa há anos, basta recordar com atenção os filmes de ficção científica (mesmo os mais antigos), onde as máquinas estão limitadas moralmente a proteger os humanos, ou "o seu" humano em específico.
As questões morais
Deixando de lado a discussão crucial sobre a necessidade de um debate sério sobre o futuro dos empregos, convém manter no horizonte a questão moral. Afinal, quando se coloca num computador, numa inteligência artifical, a responsabilidade de conduzir um veículo, de gerir os aparelhos de uma casa, há que pensar na forma como ele vai agir perante o inesperado. Como iremos nós agir quando esta inteligênica artificial pensar quase como um humano. Quando mostrar sentimentos!
É preciso não esquecer, as máquinas são programadas por humanos e funcionam seguindo as regras estabelecidas, sem julgar, ou julgando de acordo com a sua programação. É aqui que entram as questões morais das mais recentes tecnologias como o carro autónomo. Esta é a tecnologia que já está presente, parcialmente, em muitas marcas e modelos, e na totalidade em marcas como a Tesla. A previsão é que ao longo de 2017 as viaturas autónomas cheguem ao mercado com uma estratégia de massificação.
Perante determinadas situações imprevistas, como deve a viatura autónoma reagir? Esta é a questão que o MIT levanta através de um jogo. Deixando nas mãos de quem quiser experimentar a decisão sobre a forma de agir da viatura autónoma perante determinadas situações.
Na maioria dos cenários, há sempre a perda de vidas humanas ou animais. Mais novos, mais velhos, homens mulheres. No fundo, o MIT pretende apurar até que ponto a moral humana decide salvar uns em prejuízo de outros incluindo na equação as regras de trânsito.
Há ainda a possibilidade de cada um criar cenários diferentes mas, em cada um deles, tem de decidir pelo mal menor. Como é óbvio, a primeira questão que se coloca é: porque não se programa o carro para salvar todas as vidas? Será mesmo possível antecipar todos os imprevistos possíveis num acidente através de software?
Quem conduz, ou quem anda a pé, já presenciou ou foi protagonista em situações imprevistas, vulgarmente designados como "acidentes". A forma como cada um reage difere e é aqui que as máquinas podem ter vantagem pois irão sempre funcionar de acordo com aquilo que for programado. Se não consegue parar a tempo numa passadeira, guina para o lado. E se ao lado vier uma outra pessoa, um ciclista, qual deve sofrer o impacto?
Este vídeo que se tornou viral, de um atropelamento de uma ciclista perto do Fogueteiro, pode servir de exemplo: partindo do princícipio, por aquilo que se pode ver nas imagens, que se tratou de distração do condutor, um carro autónomo teria atropelado a ciclista?
Hoje em dia, os carros já possuem tecnologia que permite manter os carros na faixa de rodagem, impedindo que "fujam" para a berma por distração do condutor, além de sistemas que acionam os travões quando o condutor não o faz e se aproxima de um obstáculo. Por isso, nesta situação em concreto, o acidente teria sido evitado. Mas, nem sempre será assim!
Hoje em dia estamos preparados para perceber o erro humano mas será preciso muito tempo para aceitar e perceber que uma máquina é responsável por um acidente que provoca ferimentos ou a morte de uma pessoa.
O dilema
Vale a pena referir que já em 1967, Philippa Foot recorreu ao famoso "Dilema do Trolley (elétrico)" para representar as questões filosóficas da ética e moral. O método era o mesmo, perante uma situação de pessoas amarradas à linha do elétrico, de um lado cinco, do outro apenas um, para que lado deveria o elétrico seguir, matando a(s) pessoa(s) amarradas aos carris.
A filosofia moral recorre ainda à questão do homem gordo para nos fazer questionar o tema: Imagine que está numa ponte, por cima de uma linha férrea. Lá em baixo estão cinco pessoas amarradas aos carris. Ao seu lado, está um homem gordo. Se o atirar para a linha salva as cinco pessoas, matando o homem gordo que consegue, com a sua estatura, parar o comboio. Se fosse você, atirava o homem gordo à linha?
Somos humanos, e a ética, a moral, ainda nos distingue como espécie e optar por uma vida em detrimento de outra ainda pesa na nossa consciência. Principalmente quando temos de tomar decisões numa fração de segundos. Mas, será que a tendência humana será salvar a menina que está amarrada, matando, sem piedade, o homem gordo?
Mesmo com um carro atual, com um condutor humano, é quase impossível prever todas as reações possíveis perante um mesmo cenário. E é precisamente este alerta que o MIT pretende fazer com este jogo. Perante um "mal menor" qual escolhe? Ou qual deve a máquina escolher? Porque se com os humanos as variáveis são imprevistas, com as viaturas autónomas será a programação prévia a definir as opções a tomar e só por erro de programação seguirá um caminho diferente.
Tanto quanto se sabe, a programação pode até entregar à máquina a decisão a tomar. Após analisar todas os cenários, numa fração de segundos, como agir para salvar todas as vidas, ou o máximo de vidas possível. Mas será a decisão da máquina a mais adequada?
Pegando no exemplo do cinema, basta referir um dos momentos do filme protagonizado por Will Smith, "Eu, Robot", quando o ator recorda o acidente que levou dois carros a cair à água. Um onde ele seguia, outro onde seguia um pai, a conduzir, e a filha, menor. um dos robots ao serviço dos humanos, saltou para a água e, após analisar as probabilidades, salvou a personagem protagonizada por Will Smith, deixando morrer o pai e a menina. Mesmo perante a "ordem" dada pelo humano, o robot seguiu à risca a sua programação, depois de analisar à milésima as probabilidades.
A mensagem que se pretende passar é que um humano, teria feito de tudo para salvar a criança!