As mulheres merecem tanto como os homens
Todos os anos, quando chega o Dia da Mulher, há dezenas, centenas de artigos em jornais, sites, rádios e televisões, a recordar as sufragistas, as mulheres que, ao longo de décadas, têm lutado pela igualdade de género. Apesar das conquistas, em pleno 2017, as diferenças ainda são claras em diversos níveis: salários mais baixos do que os homens, menos mulheres a ocupar cargos de topo, violência...
As mulheres têm vindo a ter um papel mais presente nas organizações mas, ainda assim, está longe o cenário de equidade no que diz respeito a cargos de topo. E, tendo em conta as estatísticas, ainda está longe o dia em que este tema deixará de ser visto como um problema.
Esta é uma questão de base da própria existência humana que remonta aos tempos do homem caçador e da mulher cuidadora da família. Mas, há muito tempo que os homens deixaram de ter necessidade de caçar para comer.
Vivemos na era da Internet das Coisas. A tecnologia facilita a concretização de tarefas como ir às compras, programar o forno para fazer o jantar; é possível comunicar e organizar as tarefas diárias. E, claro, nos dias de hoje, qualquer homem moderno sabe que a partilha das tarefas é mais do que uma moda.
Mas, toda esta tecnologia (e basta uma pesquisa pela Internet para ver textos com títulos do género "X apps que as mulheres empresárias devem ter") de nada serve na ausência de empreendedorismo e oportunidades.
As mulheres, as mães, trabalham tanto ou mais do que os homens. Mas não chegam aos cargos de topo.
As mulheres, por questões históricas, estão com um atraso substancial ao nível das oportunidades e ainda são, na maioria, as grandes responsáveis pelas tarefas domésticas. Portugal tem uma população ativa de 5,4 milhões dos quais 48% são mulheres. No entanto, quando se olha para cargos de topo, as mulheres que ocupam cargos de administração nas empresas do PSI-20 representam apenas 5% do total. E, de acordo com os dados disponíveis, a força total de trabalho portuguesa é composta maioritariamente por mulheres, cerca de 60%.
O tema vai muita além da "simples" guerra dos sexos. Há argumentos para tudo e seria preciso muito texto para os listar e contrapor a todos. Mas, com toda a certeza, a receita estará no equilíbrio.
Tecnologia e empreededorismo
A tecnologia é um meio para atingir um fim. Ajudando, tanto homens como mulheres a ultrapassar obstáculos, a alcançar sucesso profissional e permitindo que, no conjunto, todos sejam mais felizes, com mais tempo para a família.
Mas, não muda mentalidades. Um dos factores que mais tem prejudicado a progressão das mulheres na carreira é a maternidade. Esta será a única coisa que um homem está impossibilitado de fazer em vez da mulher e uma das razões apontadas pelas empresas para travarem a ascenção das mulheres a cargos de topo.
O resultado desta forma de pensar está à vista: a queda da natalidade, casais a terem o primeiro filho cada vez mais tarde, envelhecimento da população, com todas as questões sociais e económicas relacionadas.
Os governos podem impôr quotas e discutir medidas (que demoram anos até ser implementadas) mas é preciso mais para mudar as mentalidades. As organizações podem beneficiar da qualidade e prestação das mulheres sem as penalizarem pela gravidez. A tecnologia possibilita isto, e muito mais.
As ferramentas de colaboração permitem o trabalho à distância e, afinal, uma mulher grávida não é uma mulher doente! Por isso, a par desta mudança na forma de pensar do núcleo masculino empresarial, as mulheres devem apostar mais na criação de empresas, do seu próprio negócio.
De acordo com os dados da OCDE, as mulheres portuguesas demonstram menos aptência para o auto-emprego do que os homens, mesmo quando confrontadas por situações de perda de emprego ou insatisfação laboral. No entanto, os dados mostram também que esta tendência está a mudar.
No final do ano passado ficámos a saber que a taxa de emprego entre as portuguesas com filhos até aos 2 anos é de 70%, quando a média da OCDE é de 53%. Se a análise se estender até aos 14 anos, a taxa de mães a trabalhar em Portugal sobe para mais de 75%, sendo a média de 66%. Entre os 35 países analisados no estudo "Society at a Glance", só na Áustria, na Dinamarca, na Eslovénia, na Suécia e na Suíça há uma taxa mais elevada de mães empregadas.
Portugal está também entre as nações onde mais de 90% das mães trabalham a tempo inteiro. Consequentemente, na maioria dos países da OCDE as crianças com menos de 2 anos passam, em média, 25 a 35 horas por semana em creches, mas, por cá, ficam 40 horas ao cuidado de terceiros. Estes dados demonstram que, afinal, as mulheres, as mães, trabalham tanto ou mais do que os homens. Mas não chegam aos cargos de topo.
Ao criarem o seu próprio negócio não significa que vão trabalhar menos horas mas, desta forma, podem gerir o tempo da forma que mais lhes convém, adaptam os horários com os dos filhos e ganham independência e liberdade.