Dentro de uma estação de cabos submarinos
Portugal tem-se afirmado como um dos principais pontos de passagem de cabos submarinos a nível mundial, pequenos tubos em diâmetro, mas enormes em extensão, que transportam a internet que nos liga aos serviços digitais sem os quais já não sabemos viver. Entramos numa das estações portuguesas onde são feitas estas ligações e que recebeu recentemente o maior sistema de cabos submarinos do mundo.
Nos dias que correm, o telefone de Jorge Andrade Santos, da Altice Portugal, tem tocado mais vezes fora de horas do que é habitual. Um reflexo direto da importância cada vez maior dos cabos submarinos na economia mundial. É que só este ano já houve pelo menos dois grandes incidentes que obrigaram a equipa da estação de Carcavelos a trabalhos redobrados.
Um deles aconteceu ao largo do Quénia, quando um deslizamento de terras destruiu um cabo submarino. O outro aconteceu no Portão das Lágrimas, junto ao Iémen, no qual um navio à deriva partiu três importantes cabos submarinos. Apesar de nenhum deles estar diretamente ligado a Portugal, a rede mundial de cabos submarinos, caminhos que existem no meio dos oceanos e que ligam países e continentes entre si, está desenhada para que uns possam assumir o trabalho de outros em caso de acidente.
E num ponto de ligação de vários cabos, como é o nosso País, isso significa trabalhar para garantir que ninguém fica offline. “Portugal foi instrumental no caso do Quénia. Foi um fim de semana superintenso. Um cabo submarino é das coisas mais importantes que temos na nossa vida atualmente”, destaca o líder da área de vendas internacionais da Altice Portugal, responsável por este segmento.
Além da importância dos cabos em si, o que estes exemplos também mostram é que Portugal está a tornar-se, cada vez mais, num dos pontos mais influentes da internet a nível internacional. No dia em que visitámos a estação localizada em Carcavelos, Cascais, estavam a decorrer as operações de ligação de um novo cabo, o 2Africa, que passou a ligar grande parte do continente africano diretamente ao nosso País (e consequentemente à Europa). Este sistema, que tem entre os promotores a gigante norte-americana Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) e a asiática China Mobile, entre outros, é atualmente o maior sistema de cabos submarinos do mundo, os seus 45 mil quilómetros de comprimento serviriam para dar uma volta completa ao equador terrestre.
Juntamente com os cabos submarinos, são lançados ao mar pequenas caixas que acompanham a extensão da ligação. Estas caixas, colocadas a cada 100 km, não são mais do que amplificadores de sinal. Como a informação nas fibras óticas é transportada por meio de luz, esta vai perdendo intensidade à medida que viaja pelos cabos, sendo necessário reforçar a intensidade do sinal para que a informação não se perca.
Um centro nevrálgico
Se imagina que no interior de uma estação há dezenas de cabos, vindos de diferentes partes do globo, espalhados pelo chão, qual cenário distópico, a realidade é diferente, e muito mais organizada. No caso do 2Africa, o primeiro ponto de contacto do cabo com território português, em boa verdade, não é feito na estação, mas sim através da praia de Carcavelos, em Cascais, onde é “amarrado” (é esta a expressão usada pelos peritos) a um ponto denominado de “beach man hole”, localização que não é revelada por motivos de segurança. Daí segue depois até à estação.
A estação é aquilo a que se chama de ponto de terminação das fibras. É aqui que chegam cabos de diferentes pontos que, no seu interior, têm fibras óticas. São pequenos fios com a espessura de cabelos, mas que fazem, em milissegundos e mesmo a grandes distâncias, a transmissão dos dados que nos dão acesso a sites, redes sociais e outras plataformas online. O número de fibras óticas (medido em pares, pois uma fibra do par traz os dados enquanto a outra envia os dados) varia, com alguns já terem 24 pares de fibras capazes de transportar até 180 terabytes de informação por segundo (os cabos terrestres já transportam mais de 200 pares de fibras óticas, para comparação).
Resistir debaixo de água
Os cabos submarinos são largados em alto mar à boleia de navios especializados (o 2Africa chegou a Carcavelos a bordo do Optic Marine). O diâmetro varia, tipicamente, entre 1,5 e 10 centímetros. Pode não parecer muito, mas as fibras óticas têm a espessura de cabelos e ocupam muito pouco espaço. O restante interior do cabo é preenchido com revestimentos para maior proteção e robustez geral. Junto à costa, onde está sujeito a maiores riscos (devido à baixa profundidade, maior passagem de embarcações e até mesmo à ondulação), o cabo fica mais grosso e passa a ter a denominação de “ponta da costa” (shore end), sendo reforçado com estruturas em metal para assegurar uma robustez ainda maior.
Depois, “as fibras são abertas” na estação, explica Jorge Andrade Santos. Isto significa que as fibras são ligadas a uma máquina específica, conhecida como DWDM, que é capaz de converter a luz transportada pelas fibras óticas em informação. O que esta máquina faz é analisar a luz em diferentes comprimentos de onda, sendo que cada um funciona na realidade como uma estrada específica para o transporte de dados. É a chamada multiplexação por divisão de comprimento de onda. Depois de descodificada, esta informação é depois passada ou para outros cabos submarinos, para que a informação possa ser levada para outras paragens, ou é injetada em distribuidores que fazem a partilha para terra, enviando a informação para servidores que por sua vez distribuem os dados para os utilizadores, empresas ou outros operadores de infraestruturas de telecomunicações. “Daqui [centro de cabos] ramifica para milhares de pontos”, explica Jorge Andrade Santos.
A estação de Carcavelos é uma de várias que Portugal tem, existem também no Seixal, Sesimbra, Sines, Burgau, Madeira e Açores. Em Sines, por exemplo, está amarrado o EllaLink, um cabo submarino que liga a Europa à América do Sul. E esta afirmação de Portugal no panorama dos cabos submarinos não é por acaso, como conclui Jorge Andrade Santos: “Estamos localizados numa ponta terrestre de um continente e que está claramente mais próxima da parte sul do continente norte-americano, do continente sul-americano e da costa este africana. Isso permite que atuemos como um centro de telecomunicações, porque existe essa proximidade. ( ) E há um reconhecimento muito grande a nível internacional das equipas que operam cabos submarinos em Portugal”.
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