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O futuro do reconhecimento facial

O futuro do reconhecimento facial

Em apenas quatro anos o reconhecimento facial passou a ser uma banalidade graças à implementação desta tecnologia nos smartphones de última geração. A cada ano, as marcas apostam na melhoria dos sistemas de desbloqueio dos aparelhos com os dados biométricos (onde se inclui a leitura de impressão digital) no topo da lista. Mas pode esta tecnologia abrir as portas ao famoso Big Brother referido por George Orwell?

 

Nos filmes futuristas há já muitos anos que esta tecnologia é retratada para os mais diversos fins. Na China, serve mesmo para monitorizar a população em geral. E, como se sabe, já deixou de ser uma questão de teoria da conspiração a recolha e tratamento de dados por parte da Google e Facebook. Só não se sabe na totalidade de que forma são cruzadas todas estas informações. Mas, perante todas as questões, será que, de forma genérica, as pessoas se incomodam com o facto da Inteligência Artificial estar a recolher dados biométricos?

 

Provavelmente, se alguém for questionado sobre este tema de forma direta, a resposta será, sim. Quando se olha para a aplicação desta tecnologia em situações comuns, a maioria encara-a de forma tranquila e é até proactiva na sua utilização. E desbloquear o smartphone é apenas uma pequena amostra.

 

Recorrer a este sistema para encurtar o tempo em filas nos aeroportos ou na entrada de um navio de cruzeiro, são, talvez, os exemplos mais consensuais. E é no turismo onde esta tecnologia já tem aplicação, nomeadamente no que respeita a agilizar processos. Mas há muito mais áreas onde os dados biométricos, nomeadamente o reconhecimento facial já está a ser usado há muitos anos e irá manter-se na liderança. 

 

A área da saúde, por exemplo, será aquela que terá maior crescimento já que as pessoas estão mais preocupadas com o bem-estar. Se a tecnologia pode ajudar a prevenir doenças graves, ou a morte, certamente será utilizada. Basta perceber que os sensores de recolha de dados, através de smartwatchs, bandas, smartphones, são amplamente utilizados por todos os que praticam desporto para monitorizar a performance ou os que querem, simplesmente, monitorizar os batimentos cardíacos.

 

Na Web Summit, uma das maiores atrações foi o painel gigante da Microsoft com reconhecimento facial. As pessoas colocavam-se em frente ao ecra, onde uma câmara reconhecia em simultâneo as dezenas de caras e, através da Inteligência Artificial, em poucos segundos dava um resultado de semelhança de cada cara com uma figura pública, associava a uma raça de cão ou atribuia um estado de espírito dependente da expressão facial.

 

Em frações de segundo, e em tempo real, a IA conseguia, desta forma, identificar rostos mas também o humor das pessoas. E esta tecnologia pode ser usada de múltiplas formas. Uma empresa pode, por exemplo, saber qual a reação dos clientes a um determinado produto ou anúncio e, desta forma, agir em tempo real durante uma campanha direcionando a sua comunicação para obter melhores resultados.

 

Mas, tal como noutras áreas, quando se trata de dados pessoais, e em especial de dados biométricos, é preciso agir com cautela para garantir e manter a privacidade das pessoas. No Reino Unido, por exemplo, há cerca de sete anos que o sistema de videovigilância assumiu um papel preponderante para a segurança nas ruas. Apesar das virtudes no que respeita ao combate ao crime, existem algumas dúvidas no uso deste sistema.

 

Quantas câmaras há? 

Atualmente fala-se muito do sistema de reconhecimento facial adoptado pela China. Começam a circular informações sobre as razões que levam os chineses a passear com máscaras, alegando que servem para manter o anonimato e não para proteção contra a poluição, por exemplo. Mas no Reino Unido já há alguns anos que este sistema de videovigilânica ganha corpo contando atualmente com cerca de 627 mil câmaras instaladas em Londres.

 

Já a China, de acordo com as previsões, deverá ter, em 2020, cerca de 626 milhões de câmaras ligadas no seu circuito de video vigilância. O que significa que haverá uma câmara para cada dois habitantes. Os dados foram recolhidos pela Comparitech, analisam o top das 120 cidades mais populosas do mundo e foca-se nos circuitos de vigilância das autoridades policiais e governamentais. Além disso, é impossível saber quantas destas câmaras estão ligadas a sistemas de reconhecimento facial.

 

Recentemente o ADA (Ada Lovelace Institute) - um instituto independente que tem como missão garantir que os dados e a Inteligência Artificial trabalham para as pessoas e sociedade -, divulgou os resultados de um estudo desenvolvido no Reino Unido sobre a perceção do público relativamente ao uso de tecnologia de reconhecimento facial. Cerca de 90% dos ingleses mostra estar consciente do uso da tecnologia. No entanto, apenas 53% admite saber do que se trata.

 

Perto de 46% dos inquiridos dizem que deviam ter direito a consentir a captação e uso da sua imagem, valor que aumenta para 56% entre as minorias étnicas, pois para este grupo a tecnologia é menos certeira.

 

Em geral, os ingleses estão dispostos a aceitar o reconhecimento facial em larga escala se houver um benefício público claro, sendo que 70% acha que deve ser permitida para uso por parte da polícia em investigações criminais. Mas, cerca de 67% não se sente confortável com o seu uso nas escolas e 61% mostra incómodo com o seu uso nos transportes públicos. Ou seja, a maioria está disponível a aceitar a sua utilização desde que as regras sejam claras e as políticas de utilização transparentes.

 

Os ingleses esperam regulamentação governamental, salvaguardas e limitações no uso policial, sendo que 55% defende que o uso da tecnologia seja limitado a circunstâncias específicas.

 

Quanto à utilização deste sistema pelo setor privado, a maioria dos ingleses desconfia da ética sendo que 77% sente desconforto com o uso em lojas para rastrear clientes, e 76% pela utilização por departamentos de Recursos Humanos no recrutamento.

 

Cresce o debate público na Inglaterra sobre aspectos éticos dessas tecnologias, acompanhado de protestos, críticas políticas e processos legais; existe um clamor social contra a ausência de consultas públicas adequadas.

 

O que esperar

Pegando no exemplo do Reino Unido, já para não falar da aceitação da tecnologia nos smartphones, o reconhecimento facial, o tal Big Brother, poderá ter aceitação desde que existam vantagens claras para a sociedade, as políticas sejam transparentes e visem, acima de tudo, a proteção da privacidade.

Do ponto de vista de negócio é uma tecnologia com grande potencial de crescimento e é preciso estar atento às evoluções. Atualmente já é possível tirar partido do reconhecimento facial mas perante a ausência de legislação específica muitos desenvolvimentos continuam a aguardar. 

Sem dúvida que, até lá, vão valendo, as aplicações em ambientes como aeroportos, cruzeiros ou espetáculos. Ou, como no caso da Microsoft na Web Summit, activações de marca que permitem cativar as pessoas, mostrando um pouco do potencial da inteligência artificial.

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